Curso de natação, de futebol, de ginástica olímpica. De línguas, como inglês e espanhol. Ou aula de canto, violão. Mais uma aula extra-curricular pode entrar nessa lista: coaching, uma das grandes ferramentas do mundo corporativo, que ajuda o profissional a encontrar as próprias habilidades e a encarar desafios. Aqui no Brasil, quem está a frente disso é a FasTracKids, uma rede que oferece cursos de coaching para crianças de 2 a 8 anos. Uma vez por semana, alunos, divididos por faixas etárias e em turmas de até 16 crianças, se reúnem para aprender sobre um tema. Enquanto a aula de educação financeira é dada, por exemplo, as crianças são estimuladas a se comunicar, ser criativas e a argumentar sobre o que é exposto. Tudo é gravado e, no fim de aula, que pode ser de uma a duas horas (varia de acordo com a idade da turma), as crianças veem o que fizeram e uma aponta o que a outra fez de bom ou não. A ideia é de que conceitos como feedback e autocrítica, antes discutidos apenas no ambiente de trabalho, sejam tratados desde a infância.
Esse curso, criado em 1998 nos Estados Unidos, está em 53 países e há três anos chegou ao Brasil. São quatro unidades no País (uma em Recife e três em São Paulo) e, até 2011, vão ser inauguradas mais 20. Psicopegagogas treinadas dão as aulas, sempre em dupla, que abrange 12 temas, como metas e lições de vida e ciências naturais. “Nosso foco é o estímulo e o processo de aprendizagem, não o conteúdo, como na escola regular”, afirma Renata Tortorelli Cunha de Lucca, proprietária de uma das unidades. Mas será que seu filho precisa de um curso que ensine, por exemplo, a lidar com a frustração ou a falar em público?
Do ponto de vista do desenvolvimento neurológico, há vantagens sim. “O técnico em coaching mostra não só como superar uma dificuldade, mas também o potencial, do que a criança é capaz. Não é só ensinar, é provocar na criança um desafio”, afirma Marta Pires Relvas, psicanalista e psicopedagoga, membro efetivo da Sociedade Brasileira de Neurociência e Comportamento. O especialista em coach, segundo Marta, aproveitaria as chamadas janelas de aprendizado, período em o cérebro está mais apto a aprender e que acontece justamente na infância. Existe uma área no nosso cérebro (chamada de límbico-emocional) que, quando estimulada, provoca a produção de um neurotransmissor específico. Ele estimula a oxigenação nas células neuronais. Todo esse processo, que é especialidade do coach, facilita o aprendizado. “Mas isso deve ser realizado de forma positiva, lúdica, em tom de brincadeira. Sem pressão”, diz.
Não existe consenso
Alguns especialistas não aprovam esse tipo de curso para crianças. Eles defendem que tudo pode ser aprendido no dia a dia, sem uma aula específica. “A própria vivência, o acolhimento dos pais, dão as condições ideias para o desenvolvimento da criança”, afirma Artur costa Neto, educador, do Sindicato dos Professores de São Paulo. Outro problema é adiantar temas tão complexos para crianças – e que vão ser cobrados daqui a muitos anos. “Você não precisa de um curso para ensinar isso. Se você é um pai ou uma mãe que observa bem seu filho, vai notar as habilidades e as dificuldades que ele, e vai poder ensiná-lo, por exemplo, que é comum perder um jogo de futebol, o que não significa que ele é ruim naquilo”, diz Áderson Luiz Costa Júnior, psicólogo, especialista em saúde e desenvolvimento humano, da Universidade de Brasília.
Há ainda a velha questão da agenda lotada de atividades extra-curriculares que, sozinha, pode ser ruim para o desenvolvimento da criança. O excesso de cursos pode causar estresse, atrapalhar o aprendizado, dentre outros. Por isso, na hora de decidir o que a criança vai ou não fazer, não esqueça de deixar (bastante) tempo para o seu filho descansar e brincar livremente.
Retirado da Resvista Crescer
Matérias interessantes.
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